O Dia do Homem no Brasil: 15 de julho ou 19 de novembro?
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Vez ou outra vi a mim ou pessoas próximas perguntando “Se 8 de março é o dia da mulher, quando é o Dia do Homem?” A resposta jocosa era sempre “no dia de São Nunca”. Essa é uma reação curiosa se considerarmos que o Brasil possui oficialmente um Dia do Homem desde 1992, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O Dia do Homem é 15 de julho.
Encontrar informações sobre esse dia, no entanto, é surpreendentemente difícil. Ao procurarmos, não é incomum encontrar reportagens que, visando chamar a atenção do leitor, fazem piadas como “O Dia do Homem existe”, encontradas nos sites do Colégio Sapiens e do portal UOL.
O que sabemos sobre a origem do Dia do Homem no Brasil resume-se a que sua criação se deve à Ordem Nacional dos Escritores, em 1992, como uma brincadeira. Encontramos um pouco mais de detalhes numa reportagem do jornal A Folha de São Paulo, publicada em 1999. O grupo de criadores continuou se reunindo anualmente na Pensão Jundiaí com o objetivo de “irradiar calor humano”, homenageando, a cada edição, três homens brasileiros e um estrangeiro, dentre os quais estão Nelson Mandela, Paulo Vanzolini e Pasquale Cipro Neto. Apesar do Dia do Homem ser 15 de julho, a “noite de gala” ocorreria em 20 de julho, por ser o dia em que um homem pisou na Lua pela primeira vez.
“Se perguntar quando é o Dia do Homem a um brasileiro comum, a resposta ainda será “no dia de São Nunca”.”
Essa história, cuja veracidade ninguém parece ser capaz de atestar, é tudo o que sabemos sobre o Dia do Homem no Brasil. Não há comerciais incentivando a compra de presentes para homens, nem programas de TV ou discursos políticos homenageando os homens. Se perguntar quando é o Dia do Homem a um brasileiro comum, a resposta ainda será “no dia de São Nunca”.
Entretanto, para ser justo, devo dizer que algo tem mudado na última década. A campanha Novembro Azul, que objetiva conscientizar a população sobre a importância do exame de toque retal na prevenção do câncer de próstata, tem recebido muita visibilidade e, com isso, algumas pessoas já sabem que existe também o Dia Internacional do Homem, comemorado em 19 de novembro.
O Dia Internacional dos Homens foi celebrado pela primeira vez pelo professor Thomas Oaster nos EUA em fevereiro de 1992 e popularizado por Jerome Teelecksingh como sendo em 19 de fevereiro. Mas a coincidência de o Dia Internacional do Homem cair no mês de combate ao câncer de próstata faz com que o Dia Internacional do Homem acabe reduzido a um dia para falar da saúde masculina e do câncer de próstata (como ocorre no website da ANS). Normalmente, o homem é retratado meramente como um preconceituoso teimoso, que não cuida de sua própria saúde apenas por medo de ser visto como fraco, acompanhado das piadas, estilo 5ª série, que implicam uma relação entre o exame de toque retal e a homossexualidade.
Contudo, mesmo essa modesta atenção às questões masculinas dura pouco, porque o dia seguinte, 20 de novembro, é o Dia da Consciência Negra no Brasil. Dia dedicado à rememoração do sofrimento e resistência dos escravos pretos, o que inevitavelmente eclipsa um dia para os homens.
Embora me pareça que a tendência é o dia 15 de julho cair no esquecimento e celebrarmos o Dia do Homem apenas no dia 19 de novembro, junto de outros países, o dia 19 de novembro parece-me, infelizmente, inadequado para promover, no Brasil pelo menos, os ideais de promoção de modelos masculinos positivos, melhoria das relações entre os sexos e celebração das contribuições masculinas ao mundo. Apesar disso, enquanto 15 de julho não cair, eu desejo de coração a todos um feliz Dia do Homem.
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Yago Luksevicius de Moraes
Yago é um doutorando brasileiro em psicologia experimental na Universidade de São Paulo. Ele foca em pesquisa básica referente à psicologia masculina, jogos e metodologia e sua pesquisa atual é sobre diferenças sex em como jogos são usados para formar e manter amizades. Ele colabora com um projeto de pesquisa sobre transtorno de jogo coordenado pelo Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso. Suas amizades mais valiosas foram feitas através de jogos digitais e de cartas colecionáveis.